Minhas pernas ainda estão latejando e a endorfina corre forte pelo corpo. O treino de corrida de hoje de manhã foi ótimo. Completei os 15Km de resistência abaixo do pace previsto, tomei um bom banho de suor e, ao olhar o Garmin Connect, o aplicativo do meu relógio de corrida, vi que meu VO2 subiu para 60. O VO2 é uma medida da capacidade do corpo de absorver oxigênio durante o exercício – basicamente, quanto mais alto o VO2, melhor a eficiência do seu corpo no treino. Sinto uma sensação boa de superação ao olhar esse número, especialmente quando comparo com o ano passado. Isso me lembra de quando terminei minha terceira maratona em 2023 e bati meu tempo abaixo do previsto. Foi ali que a ficha caiu: o propósito sobre tudo isso dependia mais de mim do que fatores externos, eu me senti incrivelmente bem e quem aplaudia era eu mesmo. Não foi financeiro, um diploma Ivy League, uma promoção ou o anúncio de uma grande transação financeira que eu havia liderado. Fui eu lutando contra minha preguiça, cansaço, desculpas e barreiras mentais.
Eu não sou religioso, o que dificulta na busca por um propósito mais espiritual. Por isso, aquele momento foi tão especial. Eu estava conquistando uma superação que dependia, em grande parte, de mim mesmo. O maior concorrente naquele momento era só eu. Mas, como tudo na vida, passou rápido. Dias depois, abri o LinkedIn e vi ex-colegas, amigos e conhecidos sendo promovidos, anunciando grandes conquistas. Alguns viraram CEOs, outros venderam suas empresas por milhões. E eu? Era 2023, estava distante de tudo aquilo e num momento de busca e reinvenção profissional, me preparando para um sabático e sem visibilidade sobre o que seria do meu futuro profissional. Estava feliz e grato por estar vivendo um momento tão esperado da minha carreira, uma pausa merecida com as pessoas que mais amo, porém uma segunda voz me levou para um lugar onde queria mais progresso profissional, mais achievement, mais acúmulo de títulos, mais aplausos. A sensação de progresso que eu havia sentido no pós-maratona desapareceu e foi substituída por uma nuvem negra de comparação, insegurança e insatisfação.
E lá vem a luta interna de novo. Quem tem uma personalidade tipo A sabe bem do que estou falando. Ambiciosos, overachievers – a busca incessante pelo melhor, pelo mais, a comparação constante. Isso, no fundo, é uma prisão disfarçada de ambição. Por um lado, essa força me impulsionou a sair da zona de conforto e buscar mais. Mas por outro, ela também é a voz que diz que sempre poderia ser melhor. E se não for, a culpa é minha.
Há alguns anos venho tentando equilibrar os pratos. A racionalidade, a filosofia, tentam calar essa voz egoísta, que só quer se sentir superior. Não é fácil, especialmente em um ambiente competitivo, onde sempre gostei de estar. O desafio é saber usar a ambição para alcançar algo maior e não apenas para alimentar um ego insaciável.
Este ano, em janeiro, comecei terapia, algo que já tinha considerado no passado, mas com a qual nunca engajei. Tem sido um processo incrível, onde dou espaço para refletir sobre minhas lutas internas e me tornar mais consciente delas. Eu costumo brincar que agora tenho um "psicoterapeuta interno", que dialoga com a voz do ego e, juntos, questionam o que realmente importa. Uma das grandes lições desse processo foi perceber que meu tempo está se tornando cada vez mais raro e precioso. Por isso, tomei a decisão de reduzir o ruído da minha rotina: diminuí o uso das redes sociais (Insta e LinkedIn) e passei a focar nas minhas prioridades: saúde, família, trabalho. Tem me feito bem.
Uma reflexão sobre o tema desta newsletter, Negócios do Futuro: com o avanço acelerado da tecnologia, a busca pelo nosso propósito nunca foi tão urgente. Acredito que os negócios impulsionados pela tecnologia, mas que nos conectem ao que é genuinamente humano, terão cada vez mais espaço – como mencionei na última edição. Um pequeno exemplo disso é o Dabble.me (https://dabble.me/), uma plataforma que facilita o hábito de escrever regularmente. Escrever é uma prática que, além de promover o autoconhecimento, traz clareza mental e organiza os pensamentos, contribuindo significativamente para o desenvolvimento pessoal. Para mais ferramentas de IA focadas nesse aspecto, este artigo apresenta 10 plataformas interessantes. Mas, se nada disso ajudar, uma boa conversa com um amigo, acompanhada de uma taça de vinho, ou uma caminhada de 2 horas na natureza, com certeza fazem a diferença.
Se você se identificou com meu relato, não estamos sozinhos. Fazemos parte de um movimento que busca mais sentido e propósito no trabalho e na vida. Fazemos parte do estoicismo, uma filosofia prática que ensina a focar no que está ao nosso alcance, aceitando aquilo que não podemos mudar. O cerne dessa filosofia está na ideia de que a felicidade e paz interior dependem da nossa atitude em relação às situações, e não das situações em si. Os estoicos acreditam que devemos cultivar virtudes como a sabedoria, a coragem, a justiça e a moderação, e usar essas qualidades para lidar com as dificuldades da vida de forma racional e serena. Não à toa o interesse pelo tema e a busca pela palavra “estoicismo” no Brasil e no mundo vem crescendo significativamente, como mostra o gráfico do Google Trends abaixo.
Outra referência que gosto de usar é o crescimento da busca e aplicação da filosofia prática, protagonizada por Alain de Botton, filósofo suíço que fundou a School a Life (sou fã). Desde sua fundação em 2008, a escola se tornou conhecida por suas abordagens práticas e acessíveis ao bem-estar emocional, usando filosofia, psicologia e arte para ajudar as pessoas a lidarem melhor com questões da vida cotidiana, como relacionamentos, carreira e propósito. Com sua abordagem prática, a escola cresceu significativamente desde sua fundação. Inicialmente com uma sede em Londres, expandiu globalmente com centros em várias cidades ao redor do mundo, incluindo Paris, Melbourne, Amsterdã e inclusive São Paulo. A escola não é uma instituição educacional tradicional, mas sim uma plataforma para oficinas, livros, vídeos e até cursos online, o que a ajudou a atingir um público muito maior. Um vídeo que resume bem sua mensagem é este:
E por fim, vale lembrar: A única comparação que é justa, e que realmente importa, é aquela com quem eu era ontem.
Bora suar!
Alex
P.S.: compartilhando um trecho e um livro que me marcou nesta jornada contínua de busca => The Road Less Travelled, the classic work on relationships, spiritual growth and life's meaning. Livro fantástico, para ler, sublinhar e reler.
"O que significa uma vida de total dedicação à verdade? Significa, antes de tudo, uma vida de autoexame contínuo e sem fim. Conhecemos o mundo apenas por meio da nossa relação com ele. Portanto, para conhecer o mundo, não devemos apenas examiná-lo, mas devemos simultaneamente examinar o examinador."
M. Scott Peck, The Road Less Traveled