Staying hungry, como pensa um dos melhores investidores do mundo e asking for help
Relembrando o básico que funciona
Um mês de Brasil. É bom estar de volta em casa, falar com meus clientes, mentorados, parceiros e amigos no mesmo fuso horário, e abraçar projetos maiores. Observação aleatória: as frutas e verduras brasileiras são as melhores do mundo, somos de fato abençoados por tanta fartura; Indonésia, Tailândia, Malásia, que também são países tropicais, ficam muito atrás no quesito abundância e doçura das frutas, rs.
Controle seus impulsos
Steve Jobs já dizia “stay hungry, stay foolish", mas melhor do que ele dizer é a ciência comprovar que o segredo da longevidade não está nos múltiplos suplementos que tentam te vender todos os dias, mas sim em comer pouco. Comer é frequentemente uma fuga, um alívio, talvez a única fonte de prazer do dia. Os alimentos que mais “alegram” o nosso cérebro instantaneamente são aqueles exagerados de açúcar, sal e gordura, representado nos snacks que encontramos na boca do caixa do supermercado, da padaria, no metrô e em todas as esquinas. São aqueles docinhos e salgadinhos que estão prontos para serem devorados, e que tipicamente custam pouco dinheiro. Calorias vazias. Segurar a tentação dos “agradinhos” não é fácil, por isso a crise global de obesidade só se agrava; no entanto, podemos encontrar um gatilho motivacional para a mudança de hábitos ao olhar os dados científicos que mostram como a ingestão de menos calorias do que o recomendado permite que o corpo se mantenha mais “limpo” de toxinas e que o sistema imune e os órgãos funcionem melhor e com menos sobrecarga. A The Economist dedicou uma edição ao tema que eu achei fascinante. Parte das evidências apresentadas vem de estudos realizados na Biosfera 2, um centro de pesquisa avançada localizado em Oracle, no Arizona. A Biosfera 2 é um tipo de “bolha” que permite testar inúmeras hipóteses sobre a vida na Terra com o mínimo de interferência externa, já que os participantes dos estudos tipicamente ficam confinados ao espaço da Biosfera, com controle sobre como se alimentam, se exercitam e dormem. Um highlight do que li na Economist:
Um dos oito biosferianos era Roy Walford, professor de patologia na Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA). Pesquisas realizadas por Walford e outros mostraram que restringir a alimentação dos animais poderia aumentar significativamente suas vidas. A expectativa de vida de vermes nematóides, moscas-das-frutas, roedores e cães poderia ser estendida em até 50% por meio de protocolos laboratoriais que lhes forneciam uma dieta com todos os nutrientes necessários em termos de minerais, vitaminas e afins, mas com menos calorias do que o considerado normal.
A Biosfera 2 permitiu a Walford testar a teoria em humanos que não tinham condições de sair para buscar lanches. Com uma ingestão diária de 1.750-2.100 calorias, os biosferianos, já magros para começar, emagreceram ainda mais. Mas após oito meses, seu peso se estabilizou. Embora estivessem magros, seus níveis de energia permaneceram altos. Exames de sangue mostraram respostas fisiológicas que correspondiam às dos roedores com restrição calórica e com expectativa de vida prolongada.
Eu sei que não é fácil, mas bora botar esse cérebro racional para trabalhar e convencer o emocional e primitivo sobre o que realmente nos faz bem.
Michael Moritz: por dentro da mente do melhor investidor de VC da história
Michael Moritz, aos 69 anos, é presença garantida em qualquer lista dos melhores investidores de venture capital da história. Muitos no setor o consideram o melhor de todos, o "Michael Jordan da indústria". Como managing partner da Sequoia Capital, ele foi pioneiro em identificar e investir em gigantes que ainda dominam o mundo da tecnologia e da Internet, como Google, Yahoo, PayPal, Kayak e Skyscanner. Ele apostou nessas empresas em estágios iniciais, quando quase ninguém conhecia seus fundadores. Começou sua carreira como jornalista e hoje conta com uma fortuna pessoal estimada em mais de 5 bilhões de dólares, conquistada como fruto dos seus investimentos bem sucedidos.
Escutar suas entrevistas e podcasts é inspirador e uma lição de humildade. Pragmaticamente, Michael defende que o sucesso passado não define o futuro, que reconhecer o que não sabemos é fundamental para a tomada de boas decisões, e a importância de estar cercado por pessoas excepcionais. Fica aqui a recomendação de uma entrevista que aborda desde sua visão sobre a crise no oriente médio até sua jornada em venture capital e sua forma de pensar. Entre tantas mensagens que ressoam comigo, uma das principais é sua crença de que investimentos de sucesso no early stage estão diretamente ligados à capacidade do investidor em ser um “student of people": alguém que, mais do que números, busca entender a mente e o comportamento humanos. Fascinante. Segue parte da entrevista abaixo:
“Você não sente falta dos dias em que seu trabalho era ser o primeiro a identificar que uma equipe anônima de dez pessoas teria sucesso em iniciar uma empresa enorme?
Ontem, junto com Haim Sadger, conheci os fundadores de 20 pequenas empresas, algumas das quais ainda não têm um produto, e foi emocionante. Todas elas começam como azarões, como o 'Davi' que mencionamos antes, e enfrentam uma grande luta para tornar suas empresas bem-sucedidas.
Você acredita que é possível desenvolver a capacidade de reconhecer em um estágio inicial a empresa que vai se tornar enorme?
Não. Quando você investe em uma empresa como as que conhecemos ontem, espera que dê certo, que o produto seja recebido com entusiasmo pelos clientes, mas você não sabe disso em tempo real. Nunca estive envolvido em um investimento que se tornou um negócio muito bem-sucedido, sem temer antes que o negócio ia fracassar, nem uma vez sequer.
Nem mesmo quando você trabalhou com os fundadores do Google nos primeiros dias deles?
Mesmo assim. O modelo de negócios inicial era muito diferente do modelo de negócios que conhecemos hoje, e durante os primeiros oito meses do investimento a empresa perdeu uma quantidade enorme de dinheiro e eu temia que ficássemos sem caixa. No final, isso não aconteceu.
Estamos à beira da revolução da IA. O que você acha da indústria que surgiu em torno dela?
Há uma frenesi de investimentos enorme em torno de tudo relacionado à inteligência artificial hoje, e a maioria dessas empresas vai fracassar - assim como as primeiras empresas da Internet, que surgiram entre 1998 e 2000. Exceto que, dentre todas essas empresas, alguns negócios muito significativos cresceram, e o mesmo acontecerá com a inteligência artificial. Então, do ponto de vista dos investidores, muitos deles não ficarão muito felizes com sua inteligência artificial.”
Leia na íntegra aqui.
Não sabendo que era (quase) impossível, ela foi lá e fez
Estou relendo let my people go surfing, a história honesta e apaixonada da criação da Patagonia pela voz de Yvon Chouinard, seu fundador. Quem me acompanha sabe que eu sou fã da marca, produtos, narrativa e execução da Patagonia; inclusive, há um ano escrevi um artigo onde mergulhei no caso deles.
O que chamou a atenção nesta releitura é o relato de Kris McDivitt que, em 1979 e aos 29 anos de idade, assumiu a liderança da Patagonia e da Chouinard Equipment (a primeira empresa fundada por Chouinard que fabricava equipamentos de escalada).
Chouinard diz a Kris: “Aqui está a Patagonia. Aqui está a Chouinard Equipment. Faça o que quiser com elas. Eu vou escalar.”
Kris: “Eu não tinha experiência em negócios, então comecei a pedir conselhos gratuitos às pessoas. Eu simplesmente ligava para presidentes de bancos e empresas, dizendo: ‘Ei, recebi estas duas empresas para tocar e eu não faço ideia do que estou fazendo. Você poderia me ajudar?’
E eles ajudaram. Se você pedir ajuda às pessoas, admitindo que não sabe algo - elas farão de tudo para tentar ajudar. Então, a partir daí, comecei a construir a Patagonia. Eu era realmente a tradutora da visão e dos objetivos de Yvon para a empresa.”
Quantas vezes ficamos com um problema martelando na cabeça antes de abrir a boca para pedir ajuda? Perguntar não ofende e, se bem comunicado, você pode tocar o cérebro e o coração das pessoas e acabar ganhando mais amigos e apoiadores - sempre bem-vindos na jornada empreendedora.
Parece óbvio. Mas o óbvio precisa ser dito e relembrado: stay hungry, aprenda com os melhores - mantendo a humildade, curiosidade e consistência em seu trabalho-, e não sofra sozinho, peça ajuda.
Semana curta pela frente, bora fazer os dias renderem para curtir o feriado com sensação de merecimento.
Obrigado por me acompanhar e let's hike!
Alex
Quando você começa a caminhar, o caminho aparece.
Rumi
Muito bom, Alex! Cheguei ao seu conteúdo a partir do talk no G4. Também sou fã da patagonia e estou terminando de ler o livro do Yvon. Abraços