Quando você se vê na jornada do herói
Acho que empreendedoras, empreendedores e aventureiros em geral se enxergarão bem neste post. Semana passada tomava café com um amigo e contava sobre a minha jornada atual: saindo de um fundo de investimentos, intenso porém estável, para uma vida 100% empreendedora, mais nômade, ainda mais intensa e muito mais imprevisível. Comentava sobre o frio na barriga, a energia contagiante de começar algo novo e as inseguranças de não ter clareza sobre o dia de amanhã. Ele, sensível que é, me jogou na cara: “Alex, saiba que você está vivendo a jornada do herói. O seu chamado está claro, porém as provações mal começaram. Saiba que ao avançar em sua travessia, em breve você entrará na caverna, onde encontrará dragões assustadores, e essa será provavelmente a batalha interna mais importante deste seu período". Meu olho brilhou; eu assenti.
Já muito havia lido, comentado e praticado narrativas abordando a jornada do herói, de Joseph Campbell, porém nunca havia me enxergado como seu protagonista em tempo real. Achei a reflexão fascinante, especialmente porque me dá uma estrutura clara para poder navegar pelo mar de incertezas que é qualquer recomeço. Assim, aqui escrevo e reflito sobre como se enxergar na jornada do herói pode ser consolador e motivador. Para quem nos ouve e, principalmente, para nós mesmos.
A jornada do herói
Quem tem filhos a partir dos 5 anos deve conhecer bem a fissura da molecada pelos filmes do Harry Potter. No começo de cada filme, o chamado para a aventura deixa as crianças eletrizadas e imaginativas, e a simbologia utilizada ao longo das histórias faz referência direta às batalhas que precisamos enfrentar em qualquer processo de mudança. Outros filmes marcantes e que nos deixam emotivos e reflexivos como Matrix, O Senhor dos Anéis e Into the Wild são clássicos exemplos da jornada do herói. Já estou me coçando para fazer uma análise de cada um destes filmes sob a ótica da jornada do herói, mas isso ficará para outro post. Primeiro, vamos ao básico.
A jornada do herói é um tema antigo e universal que tem sido usado em diversas culturas e histórias para representar a jornada de transformação que todos nós, como seres humanos, podemos experimentar em nossas vidas. Ela começa com um chamado para aventura, uma oportunidade para sair da rotina e enfrentar um desafio importante. O herói pode relutar inicialmente, mas eventualmente decide aceitar o desafio e partir em busca do seu objetivo. Aqui estamos falando do processo de realização de sonhos e aspirações, que quase sempre envolve tomada de risco, insegurança, tropeços e crescimento.
Ao longo da jornada, o herói enfrenta diversos obstáculos e desafios, que testam suas habilidades e o obrigam a aprender e a crescer como pessoa. Ele pode encontrar mentores e aliados que o ajudam em sua jornada, bem como inimigos e obstáculos que tentam impedi-lo.
A caverna
A passagem pela caverna é uma etapa crucial na jornada do herói, e pode ser um momento de grande transformação e descoberta. Esta passagem geralmente representa um momento de autoconhecimento e confronto com os medos mais profundos do herói. É um momento em que ele deve enfrentar seus próprios demônios internos e superá-los para continuar sua jornada.
A caverna pode representar tanto um local físico, como um lugar escuro e perigoso, quanto um espaço interno, como nossas mentes. É um lugar onde o herói deve confrontar suas inseguranças e o danado do ego, e encontrar a coragem necessária para seguir em frente. Ao passar pela caverna, o herói encontra aliados que o ajudam a superar seus medos, bem como inimigos que o desafiam e o fazem questionar sua própria força e coragem. Aí é que está a beleza da travessia da caverna.
A lição que fica: ao enfrentarmos nossas próprias cavernas, devemos lembrar que é normal sentir medo e relutar em confrontar nossos próprios demônios internos. Há aquela força brutal nos puxando de volta para a mesmice, para a zona de conforto. Dá vontade de sair correndo desses demônios. Mas é justamente ao enfrentá-los que ganhamos a força e a coragem necessárias para continuar em nossa jornada de transformação pessoal.
No final …
No final da jornada, como nos bons filmes de ação e aventura, o herói enfrenta seu maior desafio e supera-o, geralmente aprendendo lições valiosas e ganhando recompensas significativas. Ele então retorna ao seu mundo com o conhecimento e a sabedoria adquiridos ao longo da jornada, e é capaz de aplicá-los para melhorar a si mesmo e a sua comunidade. Aqui o herói chegou ao seu destino, porém talvez agora o que ele buscava no início da jornada não se aplique mais. O herói mudou, e os sapatos que tanto lhe faziam brilhar os olhos já não cabem mais.
Podemos aplicar a jornada do herói em nossas próprias vidas, reconhecendo que enfrentamos desafios e obstáculos únicos em nossas jornadas pessoais de transformação. Podemos identificar nossos próprios chamados para aventura, e decidir aceitar esses desafios e enfrentá-los com bravura.
Ao longo da jornada, podemos buscar a ajuda de mentores e aliados, bem como aprender com nossos próprios erros e desafios. Vale lembrar que é normal sentir medo e relutar em enfrentar desafios, mas que a coragem de seguir em frente pode nos levar a grandes conquistas e crescimento pessoal.
Ao enxergar a jornada completa, é fácil concordar com a velha máxima de Marcel Proust: “A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos".
Finalmente, vale lembrar que a jornada do herói não é fácil, mas é possível e recompensadora. Essencial a qualquer jornada de aventura, descoberta e crescimento é a coragem. Portanto, que sigamos em frente em direção à novos mares e ares, sabendo que cada desafio é uma oportunidade para crescer e se transformar em uma pessoa melhor.