Crescer, dominar, conquistar. Eu venho dessa escola, e sempre priorizei o profissional em detrimento do pessoal. Ambição sempre me definiu, e foi por causa dela que eu cresci, que realizei diversas aspirações, e porque o meu Linkedin parece bonitão. Graças a ela que agora vos escrevo diretamente da Ilha dos Deuses (Bali), onde vivo o sonho de explorar o mundo e a vida com a minha família. Mas tudo isso teve um custo, e só quem me conhece de perto sabe o quanto eu me esforço para fazer as coisas acontecerem e o quanto abri mão de confortos mundanos até bem recentemente (sou do tipo obcecado, que quando quer uma coisa só foca naquilo a ponto de ser chato). Como diz o Naval, quando decidimos mirar algo grande, estamos fazendo uma troca da felicidade presente pela ansiedade, investimento de energia e batalha até alcançar aquela meta.
Há 5 meses me permiti sair desse corre e colocar em prática muito do que fazia parte da minha narrativa mas que gostaria de exercer mais: empreendedorismo, uma vida nômade, mais conexão com a família, experimentações diversas. Tem sido bem legal. Enquanto vivencio isso tudo me deparo com um conceito que sempre quis praticar mas não havia definido em palavras ainda: a intenção sem apego.
Intenção sem apego é ter aspirações claras sobre onde se quer chegar e lutar para chegar lá. Nada vem de graça, sem ilusão aqui. Lutar obsessivamente, com todas as forças, é necessário. Ninguém construiu qualquer negócio ou história interessante sem muito suor. Porém, a parte do desapego refere-se à perspectiva que permite entender que o não “chegar lá” não é um atestado de fracasso. Tá tudo bem. Quais os aprendizados da jornada? Houve crescimento e avanço em relação a sua visão? Foi na direção correta? Vale tentar de novo ou desenhar um caminho diferente, baseado nos aprendizados até então?
Isso me soa libertador. Ufa. É desapegar do fardo do perfeccionismo e do medo do fracasso, desfrutando da jornada e se permitindo explorar novas ideias, correndo riscos calculados e abraçando a incerteza com coragem.

Além disso, a intenção sem apego nutre um profundo senso de gratidão e aceitação. Quando não estamos focados com o que falta em nossas vidas, somos mais capazes de apreciar o que já temos. Isso nos ajuda a encontrar alegria e satisfação nas pequenas coisas e a cultivar relacionamentos mais significativos. Estou aplicando este conceito na prática, e fora da minha bolha fica mais fácil. Assim, já me permiti mudanças importantes que eu aspirava mas que tinha dificuldade de traduzir para minha realidade sempre corrida: estou bem mais calmo e paciente com meus filhos (5 e 7 anos), escutando-os de verdade e avançando na direção do melhor pai que posso ser. Ao mesmo tempo, continuo construindo com afinco e paixão aquilo que me move profissionalmente: impactar positivamente o Brasil através do empreendedorismo sustentável, alavancando minha voz, experiências, determinação e relacionamentos para um país mais meritocrático, justo e feliz. Como já mencionei antes, acredito no poder do capitalismo e no valor do venture capital em fomentar a inovação de forma cada vez mais meritocrática.
Intenção sem apego soa um pouco controverso, e acho que é mesmo. Empreendedorismo e não-conformismo parecem sinônimos, mas eu sou o cara que sempre quis ter tudo e que sempre acha que dá. Acho que é possível sim construir um negócio bom, que naturalmente exigirá esforço e dedicação, à medida que o processo é experienciado como uma bela jornada de construção e aprendizado e onde os erros não definem o protagonista como fracassado. Acho importante sonhar grande e fazer de tudo para o sonho acontecer, porém sabemos que nem sempre é possível materializar todas as nossas ambições e que muito foge do nosso controle. Não dá para condicionar a felicidade ao atingimento da meta A, B ou C, porque a vida é curta e a grande maioria de nós tem motivos de sobra para sorrir e ser feliz agora. O último episódio do “Um Impossível por Vez", meu podcast com o Tiago Luz, traz perspectivas interessantes sobre isso, sob a voz e história do Daniel Muniz Silva, empreendedor raiz que já foi monge, é triatleta e vive uma vida rica e multifacetada - dá o play aqui e me conta o que está achando!
Intenção sem apego não é uma desculpa para a complacência. Não tem almoço grátis, mas o preço de uma saborosa refeição não precisa ser sua saúde física e mental. Acredito em ralar muito em direção aos nossos objetivos com determinação e paixão e ao mesmo tempo estar disposto a ajustar os planos à medida que a vida se desenrola. É uma dança delicada entre a ambição e a aceitação, entre desfrutar a jornada e se arrepiar com a visualização da chegada ao destino. Dá para ser ambicioso e feliz sim.
Obrigado por me acompanhar e let's hike! Feedbacks são sempre bem vindos, escreve aí!
Alex
Para fechar, uma bela citação da escritora Maya Angelou, que nos provoca a transbordar mais autenticidade e coragem:
"Sem coragem, não podemos praticar qualquer outra virtude com consistência. Não podemos ser gentis, verdadeiros, misericordiosos, generosos ou honestos."
Thanks, essa ansiedade de querermos tudo na mesma hora parece pastel de feira.
Só quem vive hoje empreendendo sabe que problemas ocorreram, concorrentes vão aparecer e seu time não vai te entregar uma solução todo os dias.
Mas a resiliência de que você sempre está estudando formas para contornar problemas e encontrando caminhos é o que nós move.