iFood: dilemas estratégicos e bate-papo com seu co-fundador
Uma edição dedicada a esta empresa que tanto me marcou
Conheci o iFood em 2015 quando me juntei à Movile e o iFood era a empresa mais promissora do portfólio. Rapidamente me apaixonei pela companhia: dinâmica, divertida, jovem, ambiciosa e muito mão na massa. Lembro que a principal mesa de reunião também servia como mesa de pingue-pongue; não porque era cool, mas para aumentar a eficiência dos recursos, um valor com o qual também me identifiquei rapidamente. Em 2017 me juntei ao time de liderança da empresa e vivi uma das minhas experiências profissionais mais marcantes. Foi uma jornada e tanto. Além dos aprendizados profissionais e lições práticas em estratégia, ficaram amizades que perduram, e na edição de hoje eu trago estes dois elementos: uma pincelada nos dilemas estratégicos vividos pelo iFood em 2018/19 e uma conversa com um dos seus co-fundadores, o Guilherme Bonifácio.
Strategie
Em um mercado em constante transformação, a tomada de decisões estratégicas é crucial para o sucesso de qualquer empresa. No caso do iFood, a decisão de investir em logística própria, em um momento em que o modelo de marketplace era lucrativo e dominante, foi um divisor de águas na história da empresa. Eu fui estrategista chefe do iFood de 2017 a 2019, um período de muita mudança no mercado de delivery no Brasil e também de muita transformação dentro da companhia.
O contexto:
Em 2017, o iFood era líder no mercado brasileiro de delivery, operando sob o modelo de marketplace. Esse modelo era simples, lucrativo e exigia investimentos principalmente em marketing e comercial.
O desafio:
A chegada de novos players, como Rappi e UberEats, com o modelo de entrega própria, representou uma séria ameaça ao iFood. Esse modelo oferecia maior conveniência aos usuários e atraía restaurantes que antes não operavam delivery.
A decisão:
Diante do dilema, o iFood optou por investir na construção de sua própria malha logística. Uma decisão difícil e arriscada, que demandaria altos investimentos e enfrentaria desafios operacionais complexos.
A jornada:
Para aprofundar o conhecimento sobre o modelo de logística própria, eu e outros líderes do iFood viajamos para países como Índia, China, Canadá e Reino Unido. O objetivo era entender com empresas que já dominavam esse modelo funcionavam e acelerar o processo de aprendizado do iFood.
O resultado:
A decisão estratégica se mostrou acertada. Hoje, cerca de 40% dos pedidos do iFood são entregues por sua própria malha logística, tornando-se um dos principais ativos da empresa.
Lições aprendidas:
A estratégia exige análise profunda do contexto e a capacidade de tomar decisões que podem sacrificar o curto prazo em prol do futuro.
Investir no desenvolvimento de novas capacidades, mesmo que complexas e custosas, pode ser crucial para se manter competitivo em um mercado em constante mudança.
A busca por conhecimento e aprendizado com empresas referência em outros mercados é essencial para acelerar o processo de inovação e adaptação.
Reflexões:
O caso do iFood ilustra como a estratégia é fundamental para navegar em um ambiente de negócios dinâmico e competitivo. A capacidade de tomar decisões difíceis, focar no longo prazo e investir em inovação são elementos essenciais para o sucesso.
Para além do caso específico do iFood, algumas reflexões adicionais podem ser feitas:
Qual o papel da estratégia em um mundo cada vez mais VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo)?
Como as empresas podem desenvolver a capacidade de se adaptar rapidamente a mudanças no mercado?
O caso do iFood, em que optamos por investir em logística própria para manter a competitividade, é um exemplo notável de como a estratégia pode ser utilizada para criar valor a longo prazo.
Outros cases de empresas que usaram a estratégia a seu favor:
Netflix: A empresa abandonou o modelo de aluguel de DVDs pelo correio e focou no streaming de filmes e séries, tornando-se líder global no segmento.
Amazon: Começou como livraria online e se diversificou para se tornar um marketplace gigante, oferecendo uma ampla variedade de produtos e serviços.
Apple: Saiu do mercado de computadores pessoais para se concentrar em smartphones, tablets e outros dispositivos móveis, tornando-se uma das empresas mais valiosas do mundo.
Starbucks: Transformou simples cafeterias em espaços aconchegantes para socialização, criando uma experiência única para seus clientes.
Lego: Deixou de ser apenas um fabricante de blocos de montar para se tornar uma empresa de entretenimento, com filmes, videogames e parques temáticos.
Em todos esses casos, as empresas foram capazes de identificar mudanças no mercado e tomar decisões estratégicas para se adaptar e prosperar. Essas decisões não eram óbvias no momento em que foram tomadas, porém arriscar faz parte da arte de se manter relevante e antecipar mudanças.
Um papo com Guilherme Bonifacio: co-fundador do iFood, empreendedor serial, investidor, líder inspirador
No nono episódio do podcast "Um Impossível por Vez", mergulhamos na trajetória inspiradora de Guilherme Bonifacio, co-fundador de empresas como iFood, ChefTime, Rapiddo e Mercê do Bairro, além de ser um investidor anjo em diversas startups promissoras no Brasil.
Nascido em uma família de funcionários públicos, Guilherme sempre teve a educação como um pilar essencial em seus valores familiares. Desde cedo, ganhou independência e se tornou referência para seus irmãos. Sua jornada empreendedora começou em Palmas, no recém-criado estado do Tocantins, onde testemunhou o surgimento de diversos empreendimentos. Com a decisão de estudar Economia na USP, sua primeira experiência em São Paulo o encantou com a energia vibrante da cidade, repleta de desafios e oportunidades.
No ambiente acadêmico, cercado por mentes brilhantes, Guilherme participou da empresa júnior e, movido pela curiosidade prática, após a graduação se juntou à pequena e desconhecida DiskCook com três amigos, empresa que foi posteriormente digitalizada como iFood. Os altos e baixos dessa jornada empreendedora são contados com carinho, destacando o dilema da inovação e a transformação da DiskCook em um marketplace online.
Guilherme compartilha sua experiência com a entrada da Movile como investidora, elevando o iFood a novos patamares de gestão, disciplina e ambição para criar um negócio bilionário. Sua visão sobre liderança como doação e aprendizado constante é inspiradora: "É ótimo ter um time brilhante, melhor do que você em diversos aspectos, para que você continue aprendendo sempre".
O empresário brasileiro que realizou três "exits" em seis meses revela os desafios, demissões e incertezas que permeiam a vida de qualquer empreendedor. Guilherme destaca a diferença entre sucesso e felicidade, inspirado pelo filósofo Luiz Felipe Pondé: "Felicidade é saber perdoar, o outro e a si próprio".
Além de suas conquistas, Bonifácio busca tornar o Brasil menos desigual, proporcionando mais oportunidades a todos. No episódio, ele compartilha suas fontes de inspiração, como o pianista italiano Ludovico Einaudi, e recomenda leituras significativas, incluindo obras de José Saramago, como "O evangelho segundo Jesus Cristo" e "Ensaio sobre a cegueira". Para crianças de 12 anos, sugere a fascinante jornada filosófica em "O Mundo de Sofia".
Te convido para daqueles papos bons sobre empreendedorismo, liderança, superação e a busca pela felicidade neste bate-papo leve e descontraído.
Nestes dias em que volto à ativa mentorando empreendedores, organizando meu workshop de planejamento estratégico pessoal, e explorando oportunidades para quando estiver de volta ao Brasil (final de abril, logo logo!), me pego refletindo sobre tudo o que tenho lido, estudado e praticado recentemente: filosofia, psicologia, ficção (estou imerso e fascinado pela história de Raskolnikov, de Crime e Castigo), economia e perspectivas para 2024, previsão de ondas em Canggu, onde estão os melhores flat whites e nasi campurs de Pererenan, o que fazer em Bangkok com crianças, viagens longas de trem pela Tailândia, e … na brevidade das nossas experiências. Sonhamos, planejamos, trabalhamos, fazemos acontecer e, num piscar de olhos, passou. O que ficam são as memórias, os aprendizados, e o senso de protagonismo, tão importante para uma vida rica e bem vivida. Ou a sensação de que a vida passou num piscar de olhos e não fizemos nada de relevante; de que apenas seguimos a boiada e vivemos em standby. Por isso, fica aqui o meu convite para que você se junte ao workshop prático onde traduzirei o planejamento estratégico que tocava no iFood para a vida pessoal e profissional. Corre lá e se inscreva, é no dia 1o. de fevereiro.
Obrigado por me acompanhar, e vamos que vamos!
Let's hike!
Alex
Aproveito e deixo mais dois convites para empreendedores:
Masterclass: A Cabeça de um Venture Capital
Aprenda diretamente de um profissional que esteve à frente de decisões estratégicas em uma das maiores startups brasileiras (iFood), mergulhando na psicologia e nos processos essenciais do mundo do investimento de risco.
Descubra o que realmente importa para os fundos de investimento e o que eles esperam de você.
Aula online | 08 de fevereiro, às 19:30hrs | vagas limitadas | R$997
Mentoria: Jornada do Fundraising
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Mentoria em grupo e individual | início em 12 de março, às 19:30hrs | vagas limitadas
"Este é um passo crucial para se conectar com os outros por meio da curiosidade: comunicar seu novo entendimento de volta para eles. É aqui que muita da magia acontece, onde a conexão entre as pessoas se torna sólida, visível e significativa. Ouvir uma compreensão precisa de nossa própria experiência vinda de outra pessoa, articulada em suas palavras, pode ser emocionante, especialmente quando nos sentimos alienados. De repente, alguém nos vê como somos, e essa experiência rompe momentaneamente a barreira que sentimos entre nós e o mundo. Ser visto é uma coisa incrível."
The Good Life: Lessons from the World's Longest Scientific Study of Happiness (English Edition) de Robert J. Waldinger, Marc Schulz Ph.D