Felicidade: Ocidente e Oriente
Ampliando o repertório sobre a ciência e a arte do bem estar
Em busca daquilo que nos escapa, a felicidade se revela como uma miragem no horizonte da nossa existência. Uma procura universal que permeia culturas e atravessa séculos, que nos provoca a experimentar diferentes caminhos para encontrar presença e bem estar. Sabemos que a vida moderna e o vício (oculto ou óbvio?) das telas nos distancia do que nos faz verdadeiramente bem, e as resoluções de ano novo invariavelmente incluem menos tempo online, mais atividade física, menos gastos supérfluos e mais conexões verdadeiras. Por isso, compartilho esta reflexão.
A felicidade é contagiante. Pessoas felizes colaboram para um ambiente familiar, social e profissional mais saudável, corajoso e produtivo. Acredito que o contrário também é verdadeiro; por isso leio, reflito, pratico e escrevo sobre felicidade com frequência. Ao contrário de muita gente do meu meio profissional, acredito e aplico a ideia de que é possível ser ambicioso, empático e feliz; um não precisa ser excludente do outro.
Sempre me interessei pelas culturas orientais. O exótico me fascina, e a Ásia me surpreende todos os dias. Gosto dos sabores intensos da culinária, dos sorrisos fartos e dos rituais sagrados. Motivado por essa busca, estou na Ásia desde julho com a minha família.
Aqui, assumo múltiplos papéis: nômade digital, executivo em sabático, antropólogo que observa e reflete sobre os costumes locais, pai(zão) que acompanha as aventuras das crianças e explorador do mundo e de mim mesmo. Tem sido uma jornada e tanto :).
Nestes dias em que me desconecto das redes sociais e das reuniões, me pego refletindo sobre como o Ocidente e o Oriente definem e vivem o sucesso e a felicidade.
No Ocidente, a felicidade se veste com as cores vibrantes do sucesso material. Acumular bens, alcançar altos cargos e experimentar prazeres imediatos são vistos como os pilares de uma vida feliz. Essa visão, impulsionada pelo consumismo desenfreado e pela busca incessante por entretenimento, pode gerar ansiedade, insatisfação e um sentimento de vazio. Afinal, a felicidade se torna um objetivo fugaz, dependente de fatores externos.
Ao mesmo tempo, estamos cada vez mais solitários. Isolados de interações presenciais e físicas, conectados à superficialidade das redes sociais. Em contrapartida, no Ocidente acreditamos em protagonismo e meritocracia, que nos permitem pressupor que podemos construir a vida que queremos, basta trabalhar duro. Eu tenho essa versão de felicidade e sucesso codificada no meu DNA, e tento buscar outras referências, práticas e experimentos que ampliem meu repertório.
Já as culturas orientais tradicionalmente buscam a felicidade em um estado de equilíbrio interior, harmonia e conexão com o todo. O foco está no desenvolvimento da mente e do espírito, na prática de virtudes como a compaixão, a gratidão e o mindfulness. Através da autorreflexão, da disciplina e da conexão com a natureza, essas culturas trilham um caminho que busca a felicidade de dentro para fora.
Claro, a cultura consumista está disseminada pelo mundo todo, e precisamos de dinheiro para viver. Mas morar por 5 meses em Ubud, o coração cultural e espiritual de Bali, me fez sentir essa diferença na pele. Lá, as famílias investem 50% da renda familiar em rituais e cerimônias religiosas, que acontecem aos montes. Em função de tantas cerimônias, muitos negócios fecham durante o horário comercial para permitir que todos participem desses importantes eventos comunitários.
Em Ubud, onde moramos num vilarejo bastante local, eu percebi claramente nas expressões dos locais o quanto de propósito esse senso de comunidade os trazia. Propósito esse que se reflete em sorrisos genuínos, vontade de ajudar e a sensação de paz e gratidão.
A ciência moderna corrobora isso:
Um estudo da Universidade de Stanford, liderado por Carol Dweck, demonstrou que pessoas com um senso de propósito têm maior resiliência e perseverança diante de desafios.
Já uma pesquisa da Universidade de Cornell, coordenada por Thomas Gilovich, revelou que pessoas com um senso de propósito vivem mais.
Para aprofundar a compreensão dessa visão oriental, é importante destacar a importância da gratidão. Apreciar as coisas boas da vida, grandes e pequenas, aumenta a felicidade e a satisfação, como comprovado por um estudo da Universidade da Califórnia, Riverside, liderado por Sonja Lyubomirsky.
Outro pilar fundamental para a felicidade é a autocompaixão. Ser gentil consigo mesmo e aceitar as falhas como parte do aprendizado contribui para o bem-estar, como demonstrado por um estudo da Universidade do Texas, liderado por Kristin Neff.
Eu gosto de estudar autocompaixão porque ela é um contraponto à cultura da meritocracia e autorresponsabilidade que vivemos fortemente no Ocidente: você é responsável por tudo o que é e tem. Eu acredito e vivo o valor do protagonismo e autorresponsabilidade, porém seu lado perverso é o senso de culpa e autopunição que nos assombra quando as coisas não saem conforme gostaríamos (quase sempre), o que vai na contramão da autocompaixão e da felicidade. Autocompaixão tem a ver com aceitação, e talvez por isso os balineses transpareçam uma sensação de bem-estar permanente, mesmo vivendo com muito menos recursos que a média das sociedades ocidentais ricas. Na prática, isso se traduz numa sociedade mais pacífica e segura: Bali é, em termos econômicos, quase 2X mais pobre que o Brasil, porém a criminalidade é praticamente zero. Isso sempre nos chama a atenção, e como é bom viver num lugar onde você não se preocupa com segurança pública (e não estou falando da Suíça, Cingapura, Escandinávia ou países ricos).
Termino este artigo observando na prática aquilo que o Jonathan Haidt diz em seu belo livro “A Hipótese da Felicidade" (que já recomendei algumas vezes por aqui :)): ao integrar os melhores aspectos das visões ocidentais e orientais da felicidade, podemos construir uma vida mais plena, significativa e gratificante. Desconectar-se das redes sociais, investir na construção e manutenção de relacionamentos verdadeiros, passar mais tempo na natureza, praticar atividades físicas, meditar e ajudar o próximo são algumas dicas práticas que podem contribuir para uma vida mais feliz.
O que eu gosto de relembrar com frequência:
A felicidade é uma jornada, não um destino. É um estado de bem-estar que se constrói através de escolhas conscientes e práticas diárias.
A sabedoria reside tanto no Oriente quanto no Ocidente: abrace a riqueza de ambas as culturas e encontre o que funciona melhor para você.
A jornada da felicidade é individual e única. Explore diferentes práticas e encontre o que te faz feliz, porém a felicidade não estará no Instagram ou TikTok, é importante lembrar :).
Agenda de eventos: workshop, masterclass e mentoria
Workshop: Planejamento Estratégico: dos Negócios para a Vida
Aprenda a traduzir os princípios do planejamento estratégico para sua vida pessoal e crie um mapa claro e priorizado daquilo que importa para você.
Workshop online | 01 de fevereiro, às 19:30hrs | 60% das vagas preenchidas | R$179
Masterclass: A Cabeça de um Venture Capital
Aprenda diretamente de um profissional que esteve à frente de decisões estratégicas em uma das maiores startups brasileiras (iFood), mergulhando na psicologia e nos processos essenciais do mundo do investimento de risco.
Descubra o que realmente importa para os fundos de investimento e o que eles esperam de você.
Aula online | 08 de fevereiro, às 19:30hrs | vagas limitadas | R$997
Mentoria: Jornada do Fundraising
90% dos empreendedores de startup não conseguem convencer o investidor e falham ao tentar levantar capital. Vou te ajudar a ser diferente nesta mentoria desenhada para ajudar empreendedores a descomplicar o processo de levantamento de capital com fundos de VC. Incluso: 10 horas de mentoria coletiva ao vivo para um seleto grupo de empreendedores, uma sessão de mentoria individual, feedback no pitch deck e grupo de discussão exclusivo durante a mentoria. O NPS desta mentoria é 100, com a recomendação máxima dos empreendedores que já passaram por ela. Veja mais feedbacks aqui.
Mentoria online | início em 05 de março, às 19:30hrs | vagas limitadas | R$5.790
Meu trabalho mais profundo focado em ajudar empreendedores a navegarem suas jornadas e liderança e construção com mais assertividade, presença e impacto.
Saiba mais aqui
Ano novo, vida nova. Bora tirar os projetos do papel! Sei que depois do break bate aquela preguiça, mas o ano não começa só depois do carnaval :).
Let's hike!
Alex
"Apenas alguns ajustes nas nossas relações mais queridas podem ter efeitos reais em como nos sentimos e como enxergamos nossas vidas. Podemos estar sentados em uma mina de ouro de vitalidade que ignoramos completamente, porque essa fonte de energia é eclipsada pelo brilho sedutor dos smartphones e da TV, ou relegada aos bastidores pelas exigências do trabalho."
Robert Waldinger, “A Vida Boa: Lições do Maior Estudo Científico do Mundo sobre Felicidade"
Oi Alex, gosto muito de seus conteúdos mas gostaria de convidar a uma reflexão - essa diferença entre ocidente e oriente não é tão exata assim. Países como India, China e Japão são extremamente orientados à competição, em alguns casos meritocráticos e outros não - há sim vários valores diferentes aos ocidentais e que podem corroborar a tese de que são mais prosociais. No entanto, aprendemos que muitos dos países mais felizes estão também no ocidente, como Finlândia, Suécia, Noruega, Holanda. O que eles tem em comum está muito ligado ao que vc colocou como escolhas que podemos fazer - menor desapego ao status, relações mais transparentes e produtivas, engajamento social, estímulo ao movimento do corpo, respeito intergeracional, incentivo à curiosidade e aprendizado, e, acima de tudo, senso de contribuição, pertencimento e agencia. Obrigada por seus textos semanais muito inspiradores.