Trabalhar e ser feliz? Dá sim
Primeiramente, muito obrigado por acompanhar a minha jornada e os meus conteúdos. Para quem está chegando agora, eu me chamo Alex, sou pai da Aisha e do Kai, e há 20 anos eu peguei meu mochilão e parti de Florianópolis para explorar o mundo e a mim mesmo. Naquela época a grana era bem curta, mas a vontade de conhecer o mundo e explorar o desconhecido era enorme. Desde então, acumulei endereços em 6 países, bati canela em mais de 60, e tive a sorte de conviver e aprender em lugares de excelência como Harvard Business School, McKinsey, GFC, iFood e Kaszek Ventures. Encontrei minha paixão no mundo do empreendedorismo, seja como investidor ou construtor, e vivo o meu propósito ajudando pessoas e empresas a encontrarem e viverem suas melhores versões.
Comecei esta newsletter, a let’s hike!, com o objetivo de organizar minhas ideias, explorar minha curiosidade, aprofundar temas que me interessam e viver uma vida mais rica. Com isso, também espero nutrir a criatividade, produtividade, curiosidade e, muito importante, felicidade de empreendedoras, empreendedores e aventureiros em geral. Acredito profundamente que quase tudo em nossas vidas, como relacionamentos, saúde e crescimento, só é verdadeiro quando vem de dentro para fora, por isso o tema desta newsletter.
Meu compromisso? Entregar conteúdo relevante e sem ruído, porém se em qualquer momento você não quiser mais receber minha newsletter, por favor fique à vontade para pular fora.
Um dos meus tópicos favoritos é cultura. Sendo mais específico, adoro entender e ver na prática como as decisões e ações do dia-a-dia de uma empresa, aos poucos, servem como pilares para a construção de seu código de conduta. Gosto de relacionar cultura com saúde: no curto prazo parece bem abstrato, você não vê muito os resultados das suas decisões; porém, com o passar do tempo, a conta chega. Aquilo que você fez ou negligenciou aparece em métricas bem tangíveis que indicam o prognóstico da sua vida ou empresa. No mundo dos negócios estamos falando de NPS dos funcionários, turnover, satisfação dos clientes, capacidade e velocidade de inovação e, finalmente, dos resultados financeiros. Cultura impacta criação de valor sim.
Eu sei que quando a startup está dando os primeiros passos a vida do CEO é absolutamente caótica. Há muito a fazer e, como eu mesmo digo, o foco deve ser em provar que seu produto de fato está resolvendo um problema e que o cliente está disposto a pagar por ele (o tal do product-market fit). Porém, negligenciar a cultura que está sendo formada organicamente, quer o CEO queira ou não, pode ter um preço alto demais lá na frente. Importante mencionar: já ouvi de alguns CEOs a seguinte frase: “assim que a pessoa de RH for contratada, ela cuidará da cultura”. ERRADO! Cultura é papel do líder principal da empresa, e não responsabilidade do RH. Já ouvi também que “o RH é o guardião da cultura". DISCORDO! Os líderes, e especialmente o CEO, são quem vivem e cultivam o modus operandi da empresa.
Vale lembrar que cultura organizacional é definida como o conjunto de valores, crenças, costumes, rituais e comportamentos que são compartilhados pelos membros de uma organização, influenciando a forma como eles se comportam e interagem uns com os outros, bem como com o ambiente externo.
A cultura organizacional é importante para as empresas porque define a identidade da organização, sua forma de trabalho e sua relação com os clientes e fornecedores. Como em qualquer contexto, as pessoas mais juniores seguirão os comportamentos dos mais seniores e influentes, por isso que o chapéu de embaixador e guardião da cultura cabe ao CEO e as lideranças como um todo. Todos os dias, reforçados verbalmente e principalmente através do exemplo. Não é preciso ter açaí orgânico, mesa de ping-pongue e puffs coloridos para se ter uma cultural legal. Como eu sempre defendo, a manifestação da cultura e dos valores da empresa deve vir de dentro pra fora, e não de fora pra dentro através de mimos que frequentemente aumentam muito a queima de caixa da empresa. Nada contra quem pode oferecer os mimos, mas isso não é o mais importante.
Para startups e empresas de alto crescimento, cultura é ainda mais importante do que para empresas grandes e estáveis. A velocidade de contratação e mudança em startups é enorme, portanto a importância de um código comum que oriente o quê e, especialmente, como fazer. Eu já vi empresas que crescem muito se perderem culturalmente ao contratarem líderes seniores do mercado sem validar o fit cultural e sem orientar/ treinar/ reforçar seu código cultural. O resultado foi um ambiente tóxico em algumas áreas da empresa, a formação de silos de trabalho e a falta de colaboração entre as áreas.
Se a liderança não definir o que é crítico, cada gestor definirá por si só, e a empresa será uma colcha de silos que provavelmente não falará a mesma língua. Muitos de vocês já devem ter vivido isso na prática, vira uma briga de poder entre as áreas e uma baita perda de energia produtiva. Que zona.
Desenvolver uma cultura forte e clara dá trabalho. Não basta falar, é preciso demonstrar através do exemplo consistentemente, e reconhecer tangivelmente quem está vivendo os valores da empresa a ponto de se tornar referência naquele aspecto. Além dos rituais que trazem o senso de pertencimento e reforçam os comportamentos e valores da empresa, é importante olhar para performance além das entregas tangíveis. Na avaliação de performance, por exemplo, eu gosto de dar 50% do peso para alinhamento e fit cultural e 50% para a entrega de resultados tangíveis.
Não adianta entregar muito resultado financeiro jogando o jogo errado. Primeiramente, mostra que o discurso e a prática da empresa estão desalinhados, o que tira a credibilidade da liderança e impacta o comprometimento da equipe. A longo prazo, isso destrói muito valor. Essas são as empresas onde as pessoas trabalham por um salário, não por um propósito ou uma causa maior.
Sabemos que a maioria das pessoas está infeliz em seu trabalho atual e, se pudesse, mudaria. Há 10 anos eu e minha esposa fizemos uma pesquisa com mais de 300 brasileiros para entender se éramos os únicos que não conseguiam conciliar trabalho com felicidade, e descobrimos que infelizmente estamos longe de ser a exceção. Mais do que cargos e responsabilidades específicas, as pessoas buscam um lugar onde se indentificam, uma causa que consideram importante, e colegas que compartilham das mesmas crenças para dividir o que ocupa uma parte tão importante das nossas vidas. Afinal, a vida é curta para desperdiçarmos energia com aquilo que não nos alimenta, e nós merecemos trabalhar e ser feliz ao mesmo tempo 😄.